Curiosidade sobre cegos
Figuras simbolizando pessoas com deficiência visual

Como é difícil querer um local bom para viver!

Postado há 6 anos

Por Jairo da Silva

Vou escrever para ver se eu consigo aprender.

Como é difícil querer um local bom para viver!

Gente. Já tive muitas dificuldades na vida. Sei que muito menos dificuldades do que várias outras pessoas. Sofri menos do que muitos outros. Agitei-me menos do que devia. Estressei-me mais do que devia. Tentei muitas vezes consertar coisas do modo errado. Fiz e provoquei o que não podia. Briguei com quem não devia. Calei-me quando deveria ter falado. Gritei quando deveria ter pensado e reagi quando deveria ter agido.

Na semana passada, tive dois problemas de ordem conceitual. Sofri, no meu entendimento uma discriminação por parte de uma empresa de ônibus que tentou me obrigar a sentar. Neguei-me e a situação ficou constrangedora. O Motorista não tocava o coletivo alegando que não poderia me conduzir em pé e que a câmera o denunciaria. Conversei com Fiscal, espedi documento para os envolvidos com o contesto fiscalizatório e na segunda vez, registrei um boletim de ocorrência.

Gente! Como é difícil agir como pessoa física. O cidadão não têm ferramentas e formas para fazer garantir os seus direitos de modo imediato. Não existe um modo eficaz de defesa de uma tese ou lei. Para tudo, necessitamos de Registros, testemunhas, depoimentos, constituição de um advogado, pagamento burocrático, conhecimento e sangue frio. Não temos a possibilidade de chamar uma autoridade nas ruas e fazer alguma consulta sobre lei ou sobre correção postural.

No caso em tela, não briguei, não faltei com o respeito e não agi de modo inadequado. Eu só não queria sentar. Fui tachado de Idiota, doente, coitado, arrogante, briguento, agitador, de prejudicar o trabalho do motorista entre outros. Mas eu só queria ir em pé.

Para tudo existe uma lição que demora, mas acabamos percebendo. Eu estou muito nervoso com as situações que me acontece no dia a dia. Estou aprendendo que eu não irei consertar o mundo e nem o que me rodeia. Estou notando que o que devo fazer é muito pouco, pois preciso cuidar de minha saúde. Necessito estudar e quem sabe, daqui a alguns anos, voltar para tentar fazer melhor. Não é possível continuar com este desgaste e acabar morrendo cedo.

Fazer pouco significa não olhar para todos os problemas e focar em apenas alguns. Não olhar para os lados e sim prestar atenção em apenas alguns movimentos. Caminhar e fazer os desvios sem se preocupar com uma possível batida ou perigo. Significa tomar o coletivo e não fazer uma ligação para a polícia quando um carro estiver parado na frente do ponto de ônibus. Significa não se estressar com alguma autoridade de trânsito quando achamos que ela está errada. Significa não ficar ocupado previamente com políticas ou politicagens, bem como com erros, roubos e demais sacanagens que sofremos durante os dias. Significa fazer aquilo que está ao alcance das mãos. Trabalhar sem a preocupação de que não possuímos o ideal. Ir ao lazer com a certeza de que não iremos aproveitar tudo o que o local tenha a oferecer e não nos incomodar com isto.

Ser um cego chato é como eu estava me tornando. Cego idealista com propósitos igualitários. Não teremos em pouco tempo uma equiparação de oportunidades. Tenho que fazer somente aquilo que me compete. Devo cuidar de minha saúde, mesmo sabendo que eu gostaria de continuar fazendo o que estava tentando construir ou desconstruir. Não é possível fazer verão com poucas andorinhas. Não dá para ficar andando feito um doido tentando encontrar algo. Acho que vou ficar um pouquinho atrás da porta, pois sei que tudo isto vai passar. Meu caro amigo, tanto mar para nos deliciar e fico preocupado com uma gota d’água. Às vezes Fasso de minhas ações, um verdadeiro brejo de cruz e não noto que a construção está no cotidiano, com atitudes onde respeitar todo o sentimento é que vale apena.

O desalento são as vitrines do fracasso e da depressão.

Acredito que a felicidade não está em uma manhã de carnaval ou em uma roda de Bossa Nova. A alegria não se encontra em uma cesta básica ou em um prato de comida. Não encontramos a satisfação em apreciar as águas da chuva. Ficar olhando para as rosas, não resolve, pois elas não falam. Ficar rezando para as fadas por um milagre é inútil, pois precisamos trabalhar em favor do que estamos pedindo. Permanecer de saco cheio é admitir que sejamos farrapos humanos de pura lamentação. O otimismo deve ser trabalhado com perseverança e devemos levantar a cabeça acreditando no amor fazendo um brinde, pois DEUS está sempre comigo.

Não estou perdido. Estou procurando uma boa atmosfera para poder encontrar a cura para certas coisas. Pelo menos é assim que vejo que caminha a humanidade. Em uma janela discreta se encontra a deusa da ilusão e da vaidade arrogante. Nos tempos modernos, esta janela está cada vez mais em evidência dando oportunidade a mediocridade e a competição barata. A tão sonhada cura nos foi trazida por um navegante que nos avisou de sentimentos perfeitos e simplesmente o matamos e não damos importância para os seus recados e exemplos. Ele nos ensinou toda forma de amor. Mostrou-nos que depois de um nevoeiro, lá vem o sol. Este astro traz vida e calor para um planeta magnífico. Estamos iper conectado com DEUS por meio dos seus ensinamentos. A festa que JESUS nos mostra, é para Todos. É para a lavadora do rio e para as estrelas. É para o Cupido e para a menina da lua. Todos estão convidados a participar desta magnífica comemoração e alguns ainda afirmam que só falta você.

Não vale a pena ficar dando murro em ponta de faca, como eu vinha fazendo. Devo ser menos vaidoso e ter mais ternura pelas pessoas que acredito hipocritamente, erram mais do que eu. JESUS nos mostra que a força do amor é uma chuva de prata que banha a todos trazendo boas e puras energias do bem. Aponta-nos o progresso como um caminho de caridade que cruza com os dos Anjos a todo o momento. A incerteza ainda permanece em nosso ser como uma sombra de um jatobá. O sol se esconde e a sombra perde sua importância. Quando nos afastamos dos ensinamentos do mestre, a dúvida e arrogância nos sobe a cabeça impedindo que possamos agir com amor. Somos escravos da alegria barata e são estas buscas insanas por ela que o turbilhão de futilidades afloram nossas sociedades.

Somos herdeiros do planeta. Somos herdeiros do futuro e é com esta responsabilidade que deveremos continuar agindo. Não devemos ter dúvidas que os nossos vizinhos, irmãos de sangue e todos que habitam este orbe, são herdeiros em potencial. Não devemos ser gananciosos. Devemos observar os detalhes e não darmos importância exagerada para tudo àquilo que nos faz mal. Não devemos nos atirar nas asas do vento suspirando a nostalgia de um coração vagabundo. Não devemos permitir que o peito pulse descompassadamente Todo Amor que Houver nessa Vida, pois a humanidade não conhecerá tudo o que é belo em tão pouco tempo. A meditação pode ser uma ferramenta útil para que o indivíduo se reforme e deste modo, poderemos chegar um pouco mais pertinho da felicidade despropositada. Se desejarmos falar com DEUS, basta agirmos por meio das boas ações e trabalharmos para que nosso Íntimo se transpareça em favor das pessoas que necessitam. A mudança interior se faz necessária para que possamos lapidar a pessoa nefasta que somos. Cada momento de dificuldade, cada situação difícil é para que tenhamos a oportunidade de aprender com a flora divina.

Estou aprendendo a fazer da vida, momentos de interiorização do amor. Quando me revolto, é porque estou desejando voltar para aquilo que acredito e que me parece estou me afastando. Volto para os sentimentos de justiça e não consigo permanecer, pois estou com as emoções em exagero pulsando por entre meu ser. O senso de justiça, igualdade e oportunidade para a sociedade Brasileira me parece ser uma utopia. Às vezes caio na crença de que estou errado. No caso exemplificado acima, bastava eu ter sentado e tudo se resolveria sem maiores problemas. Mas não. Desejava imprimir uma sutilidade na informação que a sociedade ainda não quer ouvir. Não desejamos ouvir verdades. Ensinamos os nossos filhos a falar e a ouvir mentiras e desta forma, vivemos bem.

Como explicar para a opinião pública que uma pessoa cega pode escolher andar em pé ou quando tiver poltrona vaga, ele tenha esta escolha? Como mostrar para todos que eu tenho possibilidade de fazer o que os demais também o fazem? Tenho consciência que ha uma gama imensa de indivíduos com vareadas especificidades e que todas elas tenham que ser respeitadas.

O desejo seria de mostrar que tenho pernas boas e que meus braços são sadios. Que eu não tenho limitação ao ponto de não ter o poder de escolha e que as outras pessoas é quem escolheriam por mim. Gente, eu só queria ir em pé no coletivo. As pessoas falam: O banco está vazio, é só sentar.

Não é confortável batalharmos por conquistas de direitos e as pessoas confundirem quase tudo. Confundem minha atitude como se eu fosse doente e sem noção do que estaria fazendo. A empresa foi criminosa ao me expor ao ridículo me discriminando e eu não tive poder para agir. A dupla de policial militar também foi conivente com esta ação, pois não registrou o boletim de ocorrência como crime e sim em uma opção no sistema intitulado de (Outros). Fizeram argumentos insanos, pois argumentaram contra a carta magna e a lei Brasileira de inclusão. Tiveram a petulância de afirmar que fui eu que me expus ao ridículo e que a empresa não fez nada de mais. Tenho isto gravado com a permissão destes policiais.

Vejam. Estava na rua por volta das 18h40min e não tive amparo para consulta da constituição e nem da LBI. Os policiais não tinham a informação correta e nem efetuaram pesquisa alguma para averiguar se eu estava falando alguma asneira. Bem, como eles acreditam que eu estava agindo como doido, não haveria necessidade de consultar nada, não é mesmo?

As pessoas com deficiência visual não são coitadas. Eu não tenho ninguém que precise me dar banho e consigo, por incrível que possa parecer, ir ao banheiro sozinho. Tenho condições de cozinhar e de lavar o que sujo. Sei faxinar uma casa e efetuar a lavagem das roupas. Escrevo com dificuldade. Trabalho e constituí família com uma esposa linda e que me atura com todos os defeitos que eu tenho. Subo em árvores. Subo em escadas para trocar lâmpadas e efetuar a higiene na ventoinha dos ares condicionados. Na casa da minha irmã, subo no forro para mudar fios e averiguar a caixa d’água. Pego carona com os motoqueiros. Agora lhes pergunto: Porque não posso ir em pé em um ônibus? Será que sou tão incapaz assim que não posso escolher?

A alegação é em não enxergar o perigo. Analisemos: Hipoteticamente passa um ônibus lotado. Só pelo viés da hipótese, pois aqui no Brasil isto não acontece, e lhes pergunto: Qual o percentual de pessoas que consegue enxergar o que se passa na frente do coletivo? Quem conseguirá enxergar uma curva ou um carro que corta a frente do motorista? Quantas destas pessoas conseguem ver si quer o para-brisa do veículo? Se o problema meu é o fato de não enxergar o perigo, e as outras pessoas? Elas não sofrem também o problema aí da visão?

Como não tenho dinheiro para pagar advogados e nem condições emocionais de ficar correndo atrás da defensoria da ativa e outros, emiti e-mails para vários órgãos efetuando a devida orientação para que eu e nem ninguém passe por isto novamente. Outro meio encontrado foi por meio das redes sociais. Somente com a exposição de ideias, fatos e indignações é que conseguiremos educar todos para que possamos compreender juntas esta e outras situações do cotidiano.

Defendo e continuarei defendendo a livre escolha, como nos garante a constituição. Não sou interditado e nem incapaz. Tenho o direito de escolher ajudar as pessoas e buscarei fazer isto até o ultimo momento que estiver neste planeta. Podem me chamar de idealista, não me importo. Quando eu morrer direi: Acho que pude contribuir um pouco para a inclusão das pessoas com deficiência.

Abraços fraternos

Jairo da Silva

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